Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

 

O transtorno afetivo bipolar, caracterizado por casos de depressão e mudanças de humor, que ocorrem no geral, sem um motivo específico aparente, foi a 4º doença que ocasionou mais afastamento de trabalhadores baianos de suas atividades em 2024, com 1.494 casos

 

Dados do Ministério da Previdência Social indicaram 51.314 afastamentos de trabalhos ocorridos no Brasil, conforme dados do Ministério da Previdência Social. 

 

A enfermidade foi também um dos motivos apresentados pela defesa do ex-presidente Fernando Collor para solicitar prisão domiciliar ao Supremo Tribunal Federal (STF). Os advogados ainda usaram como argumento a idade avançada do ex-senador de 75 anos e outras comorbidades graves, a exemplo do Parkinson. 

 

Por conta das duas doenças, foi justificado que o ex-presidente não conseguiria realizar suas atividades na prisão. Para entender melhor sobre a doença e se ela pode impactar de fato, no cotidiano e nas atividades de pacientes acometidos, o Bahia Notícias conversou com a psiquiatra Amanda Galvão, professora da Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA) e supervisora do Ambulatório de Transtorno Bipolar do Hospital das Clínicas/ UFBA/ Ebserh, para entender quais os danos e o que pode ocorrer por conta do transtorno bipolar. 

 

A médica explicou que o transtorno é descrito por casos constantes de euforia, agitação constante, alteração do humor de forma rápida, entre outros fatores. 

 

“O transtorno bipolar clássico ou tipo I se caracteriza por episódios recorrentes de mania ou euforia, definidos por vários dias de elevação do humor (euforia ou irritabilidade intensa) e aumento da autoestima, aumento da energia dirigida a atividades do dia a dia (trabalho, estudo, lazer), redução da necessidade de dormir, agitação psicomotora e/ou agressividade, descontrole de impulsos para compras/gastos, uso de álcool ou drogas, jogos. Também pode ocorrer ideias de grandeza, riqueza e de poder fora da realidade. Além dos episódios de mania, a pessoa pode ter episódios de depressão”, detalhou. 

 

Segundo a especialista, a doença é desenvolvida entre o final da fase da adolescência e começo da vida adulta. “O transtorno costuma ocorrer no fim da adolescência e início da idade adulta, na maioria das pessoas com o transtorno. No entanto, bem menos frequentemente, pode começar na infância ou após os 50-60 anos”, explica Galvão. 

 

A médica ainda classificou que a mudança do comportamento habitual é um dos principais sintomas e sinais. De acordo com ela, uma pessoa acometida pode ter consequências trazidas na interação e integração com a sociedade. 

 

“É possível identificar através dos sinais e sintomas, da mudança do comportamento habitual da pessoa, do prejuízo da mudança no funcionamento social e laboral. Em geral, são familiares que percebem a mudança, a própria pessoa não percebe em função de se sentir muito bem, eufórica, com aumento da autoestima ou fora da realidade em função das ideias de grandeza”, observou Amanda. 

 

A psiquiatra tratou ainda que o transtorno bipolar pode afetar o cotidiano dos pacientes, sendo um dos requisitos para determinar a realização de tratamentos. 

 

“Esse é um requisito necessário para definir que a pessoa tem qualquer transtorno. Os sinais e sintomas prejudicam a vida da pessoa como com aquisição de dívidas por gastos desmedidos, exposição social/constrangimento, exposição a riscos como direção imprudente e uso de drogas, faltas ao trabalho ou comportamento inadequado no trabalho”, afirmou. 

 

Amanda ainda comentou sobre o caso de Collor não continuar preso por conta da doença. Segundo ela, o transtorno não impede que uma pessoa responda a um crime ou que realize outras atividades, porém cada caso precisa ser analisado individualmente. 

 

“Não é uma resposta única ou definida, se avalia cada caso. Simplesmente ter transtorno bipolar, desde que com bom controle com uso de medicamentos e outras intervenções terapêuticas, não necessariamente significa que a pessoa não possa responder ou cumprir uma determinada penalidade. Varia de caso para caso, depende como a doença, transtorno bipolar, se manifesta. Não existe uma resposta única ou definitiva. Isso tem que ser avaliado em cada caso.Tem pessoas que têm transtorno bipolar e vivem sem qualquer restrição ou dificuldade, se é uma doença de mais fácil controle e se a pessoa faz um tratamento regular e completo”, contou. 

Por Bahia Notícias